2018

Teve crise dos 4 meses do bebê. Introdução alimentar. Primeiro pronto socorro, segundo também. Teve família perto. Teve mergulho no mar por um mês inteiro (tem como voltar?), comida deliciosa, vale dias (vale night não funcionou aqui), o primeiro ano do pequeno, e a festa feita a muitas mãos e que foi nossa cara. Teve bebê aprendendo a engatinhar, e opa, agora ele já tá correndo, socorro. Teve bebê falador e carinhoso. Teve saudade do Canadá, e ele também sentiu falta da gente, porque inclusive nos aceitou como residentes permanentes.

Teve muito empoderemento feminino, encontros lindos, amor e amor e amor por todos os lados. Teve muito aprendizado de vida, desses profundos que faz marca na nossa história.

Ainda em processo, tem eu tentando me entender como mãe. Tentando me lembrar que minha vida mudou, e que o sono excessivo, a falta de tempo livre, a solidão, e os desesperos, uma hora acabam. Respirando fundo pra me lembrar de aproveitar os dias, de rir junto, de viver o agora, de ter paciência infinita e de saber pedir ajuda. Eu me perdi e me achei mil vezes esse ano. Ainda não sei quem sou. Mas to tentando me achar no meio do caos e do amor.

It takes a village to raise a child. É preciso uma aldeia pra criar uma criança. E isso nos fez decidir voltar ao Bonjour e ao merci, voltar para o inverno de -20 com gelo na calçada. Mas olha, a cidade é maior, tem metrô, e tem família também, família de sangue e família que a gente escolheu, o combo perfeito.

Teve medos e erros. Teve muita cumplicidade e união pra saber superar os dois, ainda bem.

Meu maior aprendizado desse ano é que a vida é mesmo rara. Talvez ao segurar um bebê que saiu de mim pela primeira vez, me deu a certeza que no fundo a gente já tem mas nem sempre lembra, a certeza que todos nós nascemos, e um dia, todos vamos morrer. Então que tal ser feliz nesse meio? Vamos realizar sonhos, tentar melhorar como pessoa, ter mais empatia, ter mais amor, tentar entender que o universo não gira em torno do nosso umbigo. Vamos entender que as pessoas são diferentes, e que tudo bem. Que tem dias bons e outros ruins, e que isso faz parte de viver. Passa rápido, sério.

Em 2019 eu quero me cercar do que me faz bem. Quero realizar sonhos, mesmo que eu esteja morrendo de medo, vou com medo mesmo. Quero ser menos egoísta, ser mais companheira, ser uma pessoa melhor pra assim poder ser uma mãe melhor também. Quero leveza, dias quentes, video game e amigos em volta. Mais que tudo, eu quero continuar vendo meu menino crescer de perto.

Pode vir, ano novo, eu to pronta.

 ❤️

(E eu ja subir um milhão de fotos desse ano, mas vai uma só por ser o resumo do que fica)

7 meses

Vá com calma, tempo.

Mesmo que eu me pergunte se aquele dia tão difícil falta muito pra acabar. Mesmo quando as vezes, no desespero, eu choro naquela noite que o bebê não dorme. Eu não tenho pressa.

Não tenho pressa de ver cada conquista nova, de acordar com a mão dele no meu rosto, ou mesmo de passar a noite toda na mesma posição pra que ele se aconchegue no meu peito.

E vão ter dias que eu vou querer que acabem rápido, mas entenda, tempo, é só o anseio de uma nova mãe que tá querendo isso. Porque, na verdade, a mãe que pariu há tão pouco tempo, anda até assustada com o quanto sua cria já tá grande.

E ela sabe que daqui a pouco o bebê vai engatinhar, e andar, e largar do peito, e vai pra escola, e vira adolescente. Essa mãe sabe que esse momento é finito, que a gargalhada que o bebê dá hoje vai acabar para dar espaço a gargalhada de criança, de jovem e de adulto mais tarde. Ela sabe que ele vai caber inteiro no seu colo por pouco tempo. E que o colo vai ser tudo que ele precisa por menos tempo ainda.

Então, tempo, vá com calma. Deixa essa mãe aqui curtir o cheiro de quando ele acorda, a esfregadinha no olho de quando ele tá com sono, as brincadeiras no chão da sala, as noites longas, a mãozinha segurando o pézinho, o sorriso no meio do tetê.

Porque eu não tenho pressa, nem um pouco, de viver tudo que temos pra viver juntos.

Mãe

Nada te prepara pra ser mãe.

Nenhum texto da internet te conta da tristeza que bate quando você se da conta que sua vida mudou pra sempre, e ao mesmo tempo você não imagina mais sua vida sem aquele bebê.

Nenhum livro te explica o que fazer naqueles dias que você chora junto com o bebê por não saber o que você está fazendo de errado. E muitas vezes você nem está, é só um dia difícil, e vai passar.

Nenhum vídeo te prepara o suficiente para o puerpério. Esse que é tão difícil, pesado, confuso, que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo, que nos faz questionar todas nossas escolhas e nossa vida, que torna tudo intenso e que, as vezes, demora pra passar.

Não tem conselho que acalme seu coração quando seu bebê chora e você não sabe o motivo.

Não existe amor próprio que faça com que você ame totalmente seu corpo no pós parto. Ele mudou, tá diferente, tem marcas, tá flácido, tem outra forma.

Ninguém te avisa que criar um filho não tem resultado diário, e que as vezes você vai dormir exausta sendo que você “só cuidou do bebê” o dia todo e se sente culpada porque não fez mais nada.

Nenhum médico te fala que amamentar é muito mais que ter leite e arrumar a pega. É se doar, não importa a hora, lugar, ou humor, pra alimentar e acalmar o bebê que tanto precisa de você.

Nada te prepara pra sentir esse amor viceral, sincero, único, essa coisa maluca que você sente só de ver seu bebê gargalhando enquanto você canta “Que que tem na sopa do neném” no corredor de casa.

A real é que você aprende a ser mãe aos poucos. Errando, acertando, fazendo o melhor que você pode naquele momento. Tem dias fáceis, outros difíceis, dias que você chora por não saber direito o que você está fazendo, outros que você chora de tanto amor, e muitos outros que você chora de felicidade em ver um serzinho tão lindo e incrível crescendo e se desenvolvendo na sua frente.

Obrigada, Marvin, por me permitir viver isso.

Feliz dia das mães pra todas nós.

2017

Último dia do ano mais marcante da minha vida, o ano que meu filho nasceu.

Esse post é rapidinho, só pra lembrar de agradecer por tudo que aconteceu nesse ano, e foram tantas coisas.

Começamos o ano com uma mini férias, cheia de imprevistos, mas cheia de histórias pra gente contar pra vida toda.

E aí logo em fevereiro veio a notícia que ia mudar pra sempre nossa vida, eu estava grávida.

Depois veio a mudança de cidade, no trabalho, a barriga crescendo, a gente descobrindo uma vida nova.

Muita preguiça na frente da TV, muito videogame, muitos jantares, muitas risadas, muito amor.

E aí chegou o dia de conhecer nosso pequeno, e um mundo novo se abriu.

Sei de pouca coisa nessa vida, mas sei que o Marvin veio pra nos ensinar algo grande, forte e profundo.

Para o próximo ano só quero que a gente continue tendo amor, que nossa família continue unida, e que muitos sonhos se realizem.

Vem 2018, vem que eu to pronta pra viver novos dias ❤️

{Meu relato de parto}

[Eu nem tentei deixar esse texto pequeno, eu tentei colocar aqui todo o processo pra chegar onde chegamos, e tudo que senti naquele dia. Vai ser textão.]

Eu ainda estou tentando assimilar tudo que aconteceu no dia do meu parto. A verdade é que é o dia mais intenso e mais lindo que aconteceu na minha vida.

ANTES

É engraçado, lembro que quando descobri que tava grávida, eu sabia que queria um parto natural, mas eu nunca tive o que tantas chamam de um “parto dos sonhos”. Eu só queria que meu filho viesse ao mundo no tempo dele, sem nenhum tipo de droga, e se possível, fora de um hospital. Basicamente era isso.

A gente ainda morava em Montreal, e lá eu estava lutando pra conseguir uma casa de parto, já que eu não acreditava que nossa casa era adequada pra isso. Com a mudança pra Oshawa, e na nossa nova casa, eu não tinha mais dúvidas: eu queria um parto em casa.

Aqui no Canadá tenho a opção de fazer o acompanhamento da gravidez com o obstetra ou com as midwives (que são tipo as enfermeiras obstetras no Brasil), e assim que chegamos eu fui atrás de achar uma midwife pra chamar de nossa. Marquei duas consultas em locais diferentes, e quando chegamos na segunda consulta, saímos de lá com a certeza que tínhamos encontrado quem ia acompanhar a gente. Nós ficamos então no team 6, com a Shannon e a Alexia.

Pensando hoje, minha gravidez foi linda. Eu já to com saudade de estar grávida, juro! Tirando o enjoo que durou até praticamente o sétimo mês, e as dores normais de gravidez (lombar, pé da barriga, cansaço eterno), tudo ocorreu bem, tanto comigo quanto com o Marvin.

Lá no finalzinho, veio uma preocupação, no exame de sangue vimos que meu nível de ferro no sangue estava baixo, e se continuasse como estava, as midwives não recomendavam mais o parto em casa por risco de hemorragia. O mais legal de tudo isso, é que apesar de elas não recomendaram, a escolha final é sempre minha.

Bom, foram semanas tomando suplemento de ferro, e com alimentação focada em melhorar meu nível do ferro, e no último exame, chegamos ao que elas falaram de “nível aceitável” para o parto em casa.

As semanas foram passando, nossas consultas começaram a ser semanais, parei de trabalhar com 38 semanas, meus pais chegaram, e dia 5 de novembro, a data prevista de parto, ia se aproximando.

Na última consulta antes da data prevista, a Alexia nos explicou o que aconteceria caso ele não nascesse até 41 semanas e 3 dias. Uma longa conversa sobre possíveis induções e aí, meu plano de ter em casa não funcionaria mais.

Passei a conversar e explicar pro Marvin tudo isso. Lembro de um dia naquela semana sentada sozinha eu falar pra ele que eu queria muito que ele viesse no tempo dele, mas que se ele continuasse ali até dia 15 de novembro, eu teria que ajudar um pouco.

Dia 30 de outubro tivemos consulta, e fizemos o deslocamento de membrana, que nada mais é que um método mais natural de ajudar a induzir o parto. Se o bebê estiver pronto, o procedimento ajuda a iniciar o trabalho de parto, se ele não estiver pronto, é só um procedimento bem doloroso mesmo. E foi só isso, uma dor horrível. Marvin não tava pronto ainda.

Chegou dia 4. Tive algumas contrações de treinamento, bem espaçadas e com durações diferentes. Liguei pra Alexia, falei como estavam as contrações, e ai ela me falou que estava doente, e que caso eu entrasse em trabalho de parto aquele dia ou no dia seguinte, eu teria outra midwife, porque ela infelizmente não poderia vir (a Shannon estava de férias). Fiquei com medo, mas óbvio que entendia a situação. Tomei um bom banho de banheira, e as dores foram embora. Ainda não era o trabalho de parto.

Dia 5 chegou, 40 semanas. E foi um domingo como outro qualquer, uma barriga enorme, dores leves, expectativa, e só. A noite foi chegando e eu percebi que o Marvin não queria dividir o dia dele com ninguém (o avô do Léo e meu tio fazem aniversário dia 5).

[auto retrato no dia 5, que saudade da minha barriga!]

Eu já tinha consulta agendada pra segunda dia 6 no período da tarde, e logo de manhã me ligaram pra remarcar pra dia 7, porque a Alexia continuava doente. Então tá, vamos lá pra mais um dia grávida. E esse foi meu último dia grávida do Marvin.

DURANTE

Acordei com um susto enorme, e vi que eu tinha molhado toda a cama. Léo, acorda, minha bolsa estourou. Olhei no relógio, era 2:45 da manhã. Respirei fundo, mandei a ansiedade embora, eu sabia que isso não era necessariamente um sinal de que o Marvin estava chegando. Eu poderia esperar mais 4 dias inclusive. Mas logo em seguida eu senti uma dor forte. Baby, isso foi uma contração! Bora começar a monitorar. Uma hora monitorando, contrações a cada 3 minutos, com duração de 1 minuto. A gente só liga pra midwife quando estamos com contrações por uma hora a cada 5 minutos e com 1 minuto de duração, o famoso 5:1:1. Bom, acho que tá na hora de ligar. Ligamos. Lembro vagamente do Léo falando com a Alexia, e ela pediu pra falar comigo, me perguntou como estavam as dores, pra mim elas estavam fortes, bem fortes. Ela nos disse então que estava a caminho.

As contrações doem. Uma dor única, forte, intensa. Mas eu tava preparada pra elas. Eu soube respirar, soube encarar uma de cada vez sem pensar na próxima. Eu dormia entre cada contração, sim, dormia! Lembrei dos exercícios de respiração, e pensava o tempo todo sem parar: eu sei parir e meu filho sabe nascer, I’m the one with the force and the force is with me. JURO, esses foram meus lemas durante meu parto. Talvez eu seja fã de Star Wars, talvez.

Comigo o tempo todo eu tive o Léo, que me deu força, me incentivou, não me deixou desistir, me deu ombro pra dormir, aguentou cada contração do meu lado, e me lembrou o tempo todo o que eu precisava lembrar: eu ia conseguir! E também minha mãe, que me fez massagem, me dava água, amor, e força. Meu pai também estava em casa, mas ele só aparecia as vezes, me dava um beijo e um cheiro, e saia. Eu sabia que pra ele não ia ser tão fácil me ver com dor.

[eu dormindo entre contrações, e Léo me dando toda a força que eu precisava ❤️]

Eu entrei na tal da partolândia bem no começo. Lembro de tudo meio espaçado, e tem coisas que nem me lembro, que eles falam, e eu acho que ouvi ou vi, mas não tenho a lembrança clara na minha cabeça. Eu só tenho a lembrança de sentir o Marvin chegando. Ele realmente estava chegando. Me conectei com meu corpo e com meu filho, entrei realmente num mundo que era só meu e do Marvin. Faltava muito pouco pra tudo que eu tava vivendo nos últimos 9 meses se tornar real, pra gente ver a carinha dele, que eu nunca consegui imaginar como fosse.

Alexia chegou por volta de 5 da manhã. Checou minha pressão, batimentos do bebê, tudo certo. Vamos ver como tá a evolução? Vamos! 2 a 3 centímetros. Eu sabia que ainda era bem pouco. Não fiquei chateada, faz parte do processo. Ta tudo bem. Eu ainda não estava em parto ativo que é a partir de 5cm. Ela nos disse então que ia esperar com a gente mais uma hora pra ver se evoluía. Pra mim o tempo parecia estar diferente. Era mais rápido e ao mesmo tempo devagar, bem sem explicação mesmo. Sei que ela voltou pra me checar de novo, e eu ainda estava com a mesma dilatação. Ela falou que ia embora e que era para o Leo ligar de novo quando minhas contrações ficassem mais “verbalizadas” ou quando ele visse algum sangue.

E as contrações ficaram diferentes mesmo. Eram mais intensas, parecia bem mais difícil de me concentrar. Eu sei parir, meu filho sabe nascer. I’m the one with the force and the force is with me. Comecei a verbalizar cada contração, não conseguia só respirar fundo, eu tinha que gritar, que chorar, que mudar de posição. Léo diz que eu até pedi pra desistir, pra me levar pro hospital e me dar anestesia, mas eu não lembro, o que é bem bizarro, porque só lembro de pensar que eu ia conseguir.

E ficamos nisso um bom tempo. Eu não tinha ideia de que horas era, ou de quanto tempo eu estava ali. Vi amanhecer, lembro de as vezes ver as pessoas comendo, falando, mas eu não estava realmente presente.

No meio de uma contração ouvi minha mãe avisando o Léo que tinha sangue. Liga pra Alexia, avisa que tem sangue, ela fala comigo, eu mal conseguia falar, eu tinha a impressão que não tinha mais intervalo entre uma contração e outra. Ela disse que estava voltando pra me checar.

Eu não tinha expectativa nenhuma. Quando ela chegou, depois de checar os batimentos do Marvin, ela me pediu pra ver como estava a evolução e eu lembro de já esperar que ela falasse 4cm, porque apesar da dor ter ficado mais intensa, na minha cabeça poderia ser muito pior. E aí veio a boa notícia, eu já estava com 8 a 9cm de dilatação. Eu ri e sorri, eu chorei. Eu fiquei feliz, aliviada, meu corpo todo relaxou, e pra mim algo que parecia uns 10 minutos depois, eu comecei a sentir vontade de fazer força. Alexia me pediu pra esperar, ela já tinha ligado pra midwife extra (sempre é uma pra mãe, e uma pro bebê, que só vem quando já tá quase na hora de nascer), e ela começou a preparar tudo. Isso era por volta de 9:30 da manhã.

Eu tava muito preparada para as contrações. Mas eu não estava nada preparada para o expulsivo. Quando as outras midwives chegaram, e a Alexia me disse que eu poderia fazer força quando sentisse vontade, eu vi que eu não entendia direito onde fazer a força. Comecei a ter vontade e a tentar empurrar, mas era muito confuso pra mim onde eu tinha que concentrar a força.

Tentei diferentes posições e nada era confortável. Comecei a ficar cansada, bem cansada. As dores mudaram, eu sentia o Marvin, mal conseguia fechar a perna, minha sensação é que ele tava quase saindo.

Depois de tentar empurrar muito ainda na cama, e sem sucesso, Alexia sugeriu que eu saísse dali, fosse para o chão. O problema era me movimentar no meio das dores, daquela vontade de fazer força e no meio de tanto cansaço. Eu tava exausta! Fui para o chão, tentei ficar em pé, de cócoras, tudo sem sucesso. Eu me sentia muito fraca pra tudo. E ai deitei ali no chão mesmo, e a Alexia começou a me instruir em como respirar, como fazer força e como segurar meu corpo em cada contração que vinha.

Pra mim tudo aquilo era de longe a parte mais difícil. Mas, em uma das forças a Alexia me falou, Marcela, eu to vendo a cabeça dele, mas quando a contração acaba ele tá voltando, você precisa fazer mais força! Acho que se teve algum momento que duvidei realmente se eu ia conseguir, foi esse. Eu não tinha mais energia, estava realmente esgotada. Mas, eu continuei, tentei fazer tudo que ela me falava.

Hora de verificar os batimentos do Marvin. Os batimentos estavam ficando mais fracos, e eu sabia que ou ele nascia, ou eu ia ter que ser transferida para o hospital. A Alexia me olhou e falou: ele precisa sair agora! Eu tentei, e tentei de novo. Fazia força, tentava seguir as instruções, mas não conseguia. E aí ela me falou a palavra que eu mais tive medo durante toda minha gestação: episiotomia. Meu filho precisava nascer aquele momento. Foi necessária e aconteceu. E logo em seguida, as 12:54 da tarde do dia 7 de novembro, após fazer força mais uma vez, eu pude ver e sentir o meu bebê. Com 3.500g e 51cm, o Marvin nasceu.

DEPOIS

Nada no mundo pôde me preparar para o momento que vi meu filho pela primeira vez. Eu consegui. Eu pari. Ele era lindo, igual o pai dele. Um bebê grande, cabeludo e bochechudo. Nosso filho.

Ele chorou um pouco, falei pra ele que tava tudo bem e que eu o amava. Ele ficou em cima de mim, e ele tinha o melhor cheiro que eu já tinha sentido na vida, quase que viciante. Depois que o cordão parou de pulsar, Léo cortou, e ficamos ali, no meio de todo mundo, mas parecia que era só eu, o Léo e o Marvin. Como a gente conseguiu fazer aquele bebê tão perfeitinho? Pra mim existiu um amor que nasceu naquele momento. Um amor que eu nunca tinha sentido antes, profundo, incrível. Ele era o bebê mais lindo que eu já tinha visto na vida, e ele era meu, tinha saído de mim, e tava segurando meu dedos com a mãozinha fofa dele.

Depois da placenta sair, saímos do chão, fomos pra cama. Marvin fez a pega certinha, e fez um mamazão, o primeiro dele. Mas sobre amamentação e puerpério, vou tentar fazer outro post.

Parir é poderoso. Eu fiquei me sentindo como se tivesse poderes. Meu corpo pode tudo! Ser mulher é maravilhoso mesmo. Parir dói, cansa, mas juro, eu pensei que seria bem pior do que realmente foi. Eu tive meu parto natural e em casa como eu quis. E tive durante o tempo todo apoio e amor do Léo, fizemos isso juntos, e como durante toda minha gravidez, no parto também não me senti sozinha em nenhum momento.

Falei pra todo mundo enquanto Marvin mamava aquela primeira vez, que eu vou ter outro filho. Sem nem saber direito o que vinha e ainda vem pela frente, quero passar por toda essa sensação de novo.

Quando penso nas coisas que eu queria que fossem diferentes, penso que eu deveria ter me preparado mais para o momento de fazer força assim como me preparei para as contrações. A episiotomia foi difícil pra eu aceitar, mas entendi que foi necessária, e hoje, completamente cicatrizada, vejo que não foi nada demais, que não ficou nenhuma marca, e principalmente, que não foi uma violência obstétrica. E também me arrependo de não ter contratado uma fotógrafa pra esse dia, tenho pouquíssimas fotos, porque nosso plano do Léo fotografar obviamente não funcionou.

Demorei bastante pra conseguir terminar esse post, e sei que com certeza não consegui falar sobre tudo o que foi aquele dia. Mas, tá aqui, da melhor forma que consegui escrever, pra que eu tenha esse registro, esse texto sobre o dia mais incrível da minha vida.

Que delícia ser mãe desse menino.

[primeiro retrato que o papai fez da gente]

[Marvin com 40 dias ❤️]

{20 semanas}

Domingo, dia 18, chegou metade da gravidez.

Passou rápido, e ao mesmo tempo bem devagar.

Não posso dizer que estou amando estar grávida. Tem dias que são difíceis, que o enjoo não ajuda, e que parece que não importa o quanto eu durma, eu vou estar cansada. Mas, eu posso dizer que amo esse bebê.

Tem dias, como hoje, que toda a comida disponível para o almoço me fez enjoar, e eu chorei porque estava com fome e não conseguia comer. Mas dai, vem o marido, e me trouxe dois sanduíches, incluindo um só de tomate ❤ e aí tudo passa bem rapidinho.

No fim, a gente quis saber quem tava aqui dentro. Pensamos e pensamos, mas como a gente já tinha nome tanto pra menina quanto pra menino, a gente queria começar logo a chamar pelo nome.

O Marvin está previsto pra chegar em novembro 🙂

Mesmo assim, eu continuo não querendo que tudo seja só de uma cor, ou só de futebol, ou só de “menino”. Até porque pra gente, isso é pura besteira. Criança pode gostar do que ela quiser (até adultos na verdade, né). Eu quero que nosso menininho escolha as coisas que ele goste por ele mesmo, e não porque a sociedade espera que por ser menino ele tem que gostar de certas coisas.

Um dia de cada vez, agora falta só metade pra conhecer esse pequeno.

{Expecting Marvin}

Fotos do papai, exatamente no dia que completamos 20 semanas ❤

20semanas_LS_1620semanas_LS_2720semanas_LS_8020semanas_LS_104

{♥}

{Esse post é longo, foi difícil de escrever, tá meio sem ordem porque eu queria escrever muitas coisas, mas no fim, ele tá como deveria e exatamente como eu me sinto grávida: com um monte de coisa/sentimento acontecendo ao mesmo tempo}

Tem um tempo que tô querendo vir aqui e escrever. Mas talvez só hoje que consegui formular melhor dentro de mim tudo que está acontecendo.

Há um pouco mais de 100 dias eu descobri que tem uma pessoinha crescendo dentro de mim. Assim, completamente de surpresa. Eu interpretei como se o universo tivesse decidido pra mim minha eterna questão de ser ou não mãe. E continuar grávida foi uma escolha. Escolhi ter esse bebê, escolhi ser mãe.

No meio dessa mudança já grande na vida, veio uma outra, a proposta de mudar de cidade, onde não conhecemos ninguém, nem nada. Escolhemos mudar. Léo disse que o bebê veio pra mexer a vida da gente. Acredito que ele esteja certo.

Mas além de todas essas mudanças externas, vem a maior de todas, o que está acontecendo comigo. E não digo só da barriga crescendo, da falta de controle que tenho do meu corpo, do sono incontrolável, dos enjoos intermináveis, de sentir um bebê se mexendo todo dia dentro de mim. Eu digo da minha transformação como pessoa, de me aceitar diferente, fora do controle de mim mesma, me conhecendo novamente.

A gente se mudou tem quase duas semanas. E a primeira semana aqui foi intensa. Foi correria com documentos, consulta com a parteira, procurando casa, e além de tudo, se adaptar a um outro Canada. A verdade é que por 5 anos não estivemos no Canadá, a gente tava mesmo no Quebec. Parece bobeira dizer isso, mas não é. Tudo é diferente, os processos, a vida, as pessoas.

Durante essa primeira semana eu fiquei no meu canto. Eu respirei fundo incontáveis vezes, me perguntei se foi a decisão certa, senti falta dos meus amigos, da minha família, e fiquei tentando entender todos os sentimentos e como eu respondia a cada um deles.

No começo da segunda semana eu consegui me achar de volta. Só então eu decidi abraçar e aceitar de verdade tudo isso que está acontecendo comigo nesse momento.

Consegui entender que a mudança veio sim na hora certa. Estar grávida é complexo. Ao mesmo tempo que é algo bonito, é um monte de sentimento novo, e da medo pra caramba.

Eu estava me preparando há anos pra ser mãe e nem sabia. Eu lia blogs, reportagens, seguia paginas, tudo que falava sobre maternidade real, sobre parto natural, amamentação, sobre ser mulher, sobre parir. Leio tudo isso há tanto tempo, que talvez por isso quando escolhi ser mãe eu sabia o que eu queria pra gente. Mas, nem toda leitura do mundo te prepara para tudo que você sente.

Pra mim começou pela total perca de controle do meu corpo e personalidade. Eu, que nunca tive sono, hoje durmo 12 horas no dia sem nenhum esforço, e ainda tiro um cochilo no meio da tarde. Fome? Muita! Consigo comer? Não. Tenho enjoos bizarros, e teve dias que tudo que eu consegui comer foi melancia. Marcela que é mega controlada e não demonstra sentimentos? Sumiu! Já chorei no trabalho, já chorei com amigos, já tive crise de existência, já chorei no trailer do Star Wars. Marcela inteligente, melhor aluna/funcionária? Esses dias tive que usar calculadora pra fazer multiplicação. Gente, BABY BRAINS EXISTE.

Tem o medo de me perder. Como pessoa, como mulher, como tudo que eu sou. Mas pra isso tem a terapia, e a melhor terapeuta que me fez entender um pouco mais todo esse processo dentro de mim, e me fez aceitar ainda mais esse momento da minha vida.

Dai vem o mundo externo.

Tem pessoas que se afastam, pessoas que te criticam, pessoas que não entendem nada do que você tá passando, nem mesmo se você quiser explicar. E isso é um processo difícil e mais triste que o normal. Me faz questionar, ver pra onde estou indo, as escolhas que estou fazendo.

Mas dai tem também pessoas que te abraçam, te cuidam, te amam e estendem esse amor pra esse serzinho tão pequeno. Pessoas que te abraçam forte, que te dizem que tá tudo bem. E aí você sente lá no fundo que tá realmente tudo bem.

Tem todo mundo querendo dar opinião sobre qualquer coisa que eu não perguntei. Ah mas parto natural? Amamentação? Mas nossa, ter parto em casa? Doula? Mas já sente mexer assim tão cedo? Como assim não quer saber o sexo? Mas isso, e aquilo e mais tudo que vocês possam pensar. Estar grávida aparentemente é abrir sua vida toda para as pessoas falarem o que quiserem, mesmo se você não abriu porra nenhuma. {Obrigada a Tchulim, pelo malavilhoso vídeo da Cara de Alface que me faz seguir em frente e continuar tendo pessoas na minha vida sem querer matar todo mundo}

E ai tem o amor.

Um amor pela família que eu e Léo estamos construindo que é algo muito, muito maluco. Eu me sinto cuidada, amparada, amada. Léo me faz lembrar que eu posso chorar, me sentir triste, feliz, posso tirar sonecas no meio da tarde, ou ficar jogando Zelda até cansar, que eu posso sim ser egoísta e pensar só em mim e no bebezin. {Não vou fazer uma declaração enorme pra vc Baby, pq to te falando TODOS OS DIAS tudo que preciso, mas obrigada por tudo}

Em novembro bebezin chega por aqui, queremos supresa pra saber o sexo, já tem dois nomes definidos, e estamos estudando, conversando e pesquisando tudo o que a gente acredita que seja melhor pra gente como família.

A gravidez não é tão legal, mas o dia que eu vi um bebê de verdade no ultrassom, foi sem dúvida o dia mais indescritível da minha vida.

Esse texto eu demorei uns 5 dias pra terminar. Sem exagero.

E espero que o próximo não demore tanto, porque escrever me ajuda a organizar todos esses sentimentos que existem em mim. {como já disse minha amiga semana passada}

Muitas mudanças, muita coisa acontecendo, e eu sei que ainda é só o começo.

 

construindo

Talvez por causa das minhas 4 horas semanais de aula de knowledge (conhecimento), ou talvez porque ontem foi minha última terapia do ano (licença maternidade da psicóloga), ou talvez só porque sim, eu tenho pensado demais sobre tudo na minha vida.

E hoje, um desses dias particularmente difíceis, no meio de uma TPM muito forte, de um energético as 8 da manhã pra ver se eu conseguiria aguentar acordada, entre algum minuto das minhas 9 horas de aula do dia, minha amiga colocou uma foto minha e do marido, com uma frase que resumiu meus pensamentos:

amor de verdade é construído; tijolo por tijolo.

E é exatamente isso, amor de verdade é construído.

Esse amor aqui de casa não é de novela, de foto feliz no facebook todo dia. É um amor real, cheio de diferenças, de problemas, de TPM, de acordos (ou não), de louça na pia e casa suja, de dinheiro curto. É amor que chora, que ri, que enfrenta ter um filho doente, que aprende a ver o sol com -40 de temperatura, que tem preguiça.

Mas o que faz dele ser assim, tão único pra minha vida, é que ele ta aqui, presente em mim como uma extensão de mim mesma.

Obrigada, Baby. Obrigada por acreditar em mim, por nunca me deixar desistir, por me amar, me respeitar, por ser meu melhor amigo, e por ter me dado uma família tão linda como a nossa. Eu não canso de falar, esse nosso amor é muito maior do que eu sonhei ter um dia pra mim.

Esse amor é todo meu, todo seu, essa vida é toda nossa. Tijolo por tijolo mesmo.

24-06-2010

No último post falei que a gente ia casar… e casamos.
Não poderia ter sido mais nosso. Meu dia começou cedo, eu levantei da cama as 05:40 porque tinha tanta coisa na minha cabeça que eu não conseguia mais ficar deitada. Olhei para o lado e Léo dormia tranquilo, até o invejei um tanto, Léo é tão calmo, queria um pouco mais dessa tranquilidade pra mim.
Peguei o note, selecionei algumas músicas que eu queria que fizesse parte daquela manhã tão gostosa.. gravei um cd que não funcinou depois, mas, ele tá lá, faz parte desse dia também.
Minha mãe chegou cedo, começou a me ajudar com as coisas de casa, com a mala, e quando eram 6:30 o maquiador chegou. Super adiantado, corri pra tomar banho. Léo foi buscar alguma coisa pra comer na padaria, e logo chegou a Sharon.
Eu tinha falado pro Marcelo que eu queria algo natural, meu cabelo muito parecido com o dia a dia e a maquiagem muito discreta, e eu não poderia ter tido melhor maquiador.
Fiz um chimarrão pra acalmar um pouco, e pronto, sentei e deixei o dia acontecer.
Quando ele terminou, fui ver no espelho, não tinha como ter sido mais minha cara o cabelo, nem a maquiagem, nem o vestido, nem o sapato, nem a fotógrafa, nem o noivo.
A correria da hora de sair chegou, e lá fomos nós pro cartório que é pertinho de casa.
Nossos convidados eram óbvios, os pais, os irmãos, meu primo e minha amiga que fazem parte de mim.
Esperamos, chegou nossa hora,  e durou 2 minutos tudo. Assinei como Marcela Silva Sanches de Lima. Alianças trocadas, abraços de todos. Acabou ali. Passou rapidinho, assim como imaginei que seria.
E ai veio a parte que eu também esperei muito… a sessão de fotos. Fomos pra um mini parque que tem ali na Chácara Sto Antonio, quase ninguém conhece, mas eu sabia que ali seria perfeito. Com o marido fotógrafo, apesar de termos muitas boas fotos, nunca tivemos as fotos merecidas pra tanto amor que temos, e esse foi o presente que eu queria pra nós. A Sharon como fotógrafa/amiga que amamos profissional/pessoal rs, sabe o suficiente da nossa vida, da nossa história, do nosso amor pra poder fazer aquele momento ser especial como eu queria que fosse. Passamos a manhã ali, com carinho, com beijo, um momento nosso, era a realização dos passos que nos fizeram chegar até ali.
Eu era feliz, minha vida até ali tinha sido como eu pensava, cercada de amor, de Léo. Nao sabia que existia felicidade maior, e existe. Eu consegui superar minha própria felicidade, eu consegui superar meu amor, meu sorriso, minha vida. Eu era do Léo e ele era meu.
Fomos na escola onde nos conhecemos assim como eu tinha imaginado quando pensei nessas fotos, cheio de alunos “smurff”, e depois casa pra sentar no quintal e deixar nossos pequenos lamberem, e sentirem a felicidade junto, eles são afinal de contas, a extensão da família que estamos construindo, nossos bulldogs gordos.
O casamento foi assim. Simples assim, mas tão nosso, que nem se eu tivesse planejado uma festa com 500 pessoas teria sido tão perfeito. Eu casei como eu esperava, como eu queria, com quem eu sempre sonhei. Foi nosso.
A lua de mel foi a extensão desse dia tão único. Passamos 4 perfeitos dias num lugar perfeito. Passamos o tempo do avião com cruzadas e boas risadas.
Mas nada disso tudo teria sentido sem ele. Que faz cada segundo da minha vida valer a pena, que segue qualquer caminho ao meu lado, que me apóia, me suporta, me ama. Sem ele que me dá colo, que me entende, que faz meu café todos os dias.
Eu sempre pedi a Deus pra ser feliz, mas o que eu tenho eu sei que é além disso, eu tenho o amor, da forma mais completa que uma pessoa pode ter.
Baby, func<<.

Vim hoje sendo eu. Sem querer escrever bonito, apenas escrever. Faltam 48 horas pra gente casar, é eu vou casar.
Não vai ter festa, não vai ter religioso, vai ter o civil, vamos lá, assinamos, colocamos a aliança escolhida com tanto carinho nos dedos, e colocamos o pé pra fora devidamente oficializados. Ontem eu fiz um convite, pq amigos muito próximos fizeram questão de ir, e ao invés de mandar o endereço e só, eu escrevi algo bonitinho com endereço, dia e hora. Ali tá escrito assim: cumplicidade e amor nos trouxeram até aqui, agora é o momento de oficializar esse caminho que escolhemos seguir…
Eu não poderia ser mais sincera nessas palavras. Eu e ele sabemos de cada passo que demos, cada decisão juntos, e o que nos trouxe até aqui, até esse dia. Erramos, acertamos, caimos, levantamos. A gente construiu nossa história. 
Tivemos carinho pra escolher os poucos detalhes, a aliança, a roupa, e ainda ganhamos uma lua de mel que com sol ou chuva sei que será inesquecível.
No dia que fomos lá no cartório, levamos as mães, que nos conduziu até nosso caminho cruzar, e não poderia ter melhores testemunhas que essas. Todos perguntaram: mas por que a pressa? Pressa? Não, não teve pressa, apenas decidimos, apenas pensamos e gostamos da quinta-feira dia 24. É um dia par, no mês par, no ano par. Sai de lá com um frio na barriga, bobeira de menina que pensa, meu nome vai mudar tudo. É só um detalhe, mas vai mudar. Eu quis, ele quis e assim decidimos.
Faltam 2 dias, que vão passar rápido, e daqui a pouco é a hora. E sei que lá, vão estar as pessoas que nos amam, assim como a gente é. Os que não podem estar pessoalmente estarão na torcida, no pensamento, esses que nos ajudaram, que nos incentivaram, que viu alguma fase, que esteve com a gente em algum momento desses 5 anos e um tanto.
Eu to feliz, aquela felicidade que não cabe no peito, que dá vontade de ficar pulando e gritando. Mas com ele, eu aprendi a ser menos ansiosa. E vou aproveitar esse pouquinho que falta da melhor forma. Ficando com ele, na nossa casa, com nossos cães.

(L)