Pausa.

Domingo vim parar no blog e li meus últimos textos. Ler o de fechamento de 2019 que na verdade publiquei quase no fim de janeiro, me deu um aperto no peito, porque ali ninguém tinha ideia do que estava por vir.

As últimas semanas vem sendo um desafio enorme. Pelo menos uma vez por dia (tá mais pra umas 10x por dia, mas blz) eu me pergunto onde estamos errando. Marvin tá sofrendo com o distanciamento. Quer ver nossos amigos, quer ir na casa das pessoas. E todo dia a gente explica, a gente acolhe, a gente brinca, brinca e brinca sem parar. E tem dias que dá certo, o dia é gostoso, mas tem muitos outros que temos um menininho que fala “eu to muito chateado”, ou que chora sem razão, que dorme mal.

Pra complementar, obviamente ele tá sentindo que falta pouco para o irmão chegar. Ah é né, tem a gravidez no meio disso tudo. Isso quer dizer que 95% do tempo ele só me quer. E vale lembrar, ele sempre ficou com o pai em casa, os dois tem uma relação linda. Mas, a mamãe é a mamãe. E na maioria dos dias eu não tenho tempo pra respirar sozinha por 5 minutos. Ontem ele falou para o Léo enquanto eu fazia minha consulta prenatal por telefone que tava com medo da mamãe morrer. Como você explica pra uma criança de 2 anos e 6 meses tudo isso? Que apesar de tudo estar diferente, dele ver a mãe e o pai frágeis, a gente tá aqui com ele, e que não vai acontecer nada de ruim? Como?

Tem quem ache difícil o primeiro ano do bebê. Aquela fase que um bebê precisa de você pra tudo 100% das vezes. De noites mal dormidas, de choros sem explicação, de cólicas. Nossa, eu enfrentaria 10x a maternidade do primeiro ano se essa fase de agora ficasse mais fácil. Sim, é incrível ver que ele mesmo tão pequeno saiba expressar os medos, os anseios, até mesmo a felicidade dele, mas é difícil explicar que ele não vai me perder, e que apesar de tudo mudar, continuaremos juntos.

Estamos em quarentena desde o dia 13 de março. Em casa. Não tem visitinha de ninguém, simplesmente porque não pode mesmo. Quando teve oportunidade de alguém vir do Brasil pra nos ajudar, ninguém podia, mesmo eu pedindo e tentando explicar como tava aqui pra gente. Mas, ninguém veio. Estamos só eu e Léo pra encarar os desafios que já começaram. Que sorte a nossa ter aqui amigos que são muitas vezes nossa família, e com eles a gente já tá contando pra nos trazer comida, pra cuidar do Marvin quando for a hora do Nolan nascer, pra nos cuidar quando a quarentena acabar.

Hoje o dia até que está bom. Marvin não ficou chorando a manhã toda, e quis ir ver os gansos no parque. To em casa trabalhando, e parei pra vir tentar escrever tudo que as vezes eu não consigo falar. Deixar aqui um pouco de tudo que to sentindo e vivendo num momento que era pra ser de totalmente diferente. Mas né? A gente não tem controle de nada. Não importa os planos que eu tinha, o que importa hoje é que estamos saudáveis, que estamos num país onde temos suporte do governo, e que eu e Léo estamos juntos pra enfrentar tudo isso ai, achando um tempinho pra se abraçar  no meio do caos, chorando pra ver se o medo alivia, e um apoiando o outro como dá.

Mas, a verdade é que a maioria dos dias eu to cansada além do normal. Eu choro, eu me desespero, eu me pergunto como vou dar conta, e eu tenho medo. Eu sinto falta de ter amigos perto pra dividir um pouco tudo isso, pra deixar Marvin brincar um pouco com eles, e eu poder falar bobagens e rir da vida.

E todo dia eu falo com esse bebezinho que cresce dentro de mim o quanto ele é amado e esperado, mesmo no meio do caos, do incerto. Fui agora ver o que significa o nome que escolhemos inclusive. E Nolan significa “campeão”. Meu menininho que me fez rir quando vi o positivo, e que me fez ver a gravidez completamente diferente da primeira vez. E que vai ter na história dele que ele nasceu no ano do Covid-19, e que deu tudo certo. Tenho certeza que vai dar tudo certo.

Pronto. Não tem começo, nem meio e nem fim pra esse texto hoje. Não tem nem sentido uma coisa com outra. Mas, eu sei que vou gostar de ter parado 10 minutos e colocado aqui tudo que tem acontecido, porque afinal de contas, nunca na vida imaginei passar por nada parecido com o momento que estamos vivendo.

Hora de reunião. Até mais.

Hoje.

Hoje eu to aqui sentada num café no centro de Montreal, esperando minha amiga pra gente sair pra jantar, ouvindo uma musica, pensando na vida.

Até parece um dia bem normal da vida que eu costumava ter. Exceto pela culpa, que tá sentada aqui na cadeira do lado.

Não importa, eu sei que Marvin tá bem, tá em casa com o pai dele, provavelmente correndo, falando horrores e brincando. Mesmo assim eu me sinto mal por estar aqui, “fazendo nada” sendo que eu poderia estar lá com eles. Penso que o Léo já faz tanto, e que talvez eu não esteja sendo justa, afinal ele também faz dupla jornada. Fico pensando que talvez seria melhor eu voltar logo, pra que o Marvin não sinta muita falta, e juro, mais um monte de coisa se passa na minha cabeça agora.

E aí to aqui hoje, depois de uma noite sem dormir porque o bebê só quis ficar mamando à noite toda, pensei em voltar direto pra casa, mas a real é que eu preciso aprender a ter esses momentos só meus. Ou faço isso ou eu não dou conta. Ou faço isso ou o tempo que eu passo com meu filho não é de qualidade.

Eu que sempre fui ansiosa e complico tudo, ainda não me adaptei totalmente as demandas que a maternidade exige de mim. No fim, eu sei que Léo tem razão em dizer que eu preciso ser mais leve no meu maternar, que preciso entender que eu muitas vezes sou tudo o que o Marvin quer, e que tudo bem.

No fim eu sempre acabo frustrada. Se eu quero que Marvin durma cedo pra que eu possa resolver tantas coisas que preciso, óbvio que vai ser o dia que ele não quer dormir, e aí fico chateada. Mas quando ele dorme, fico mal por não ter aproveitado o tempo que eu tive com ele da forma que eu deveria. Frustração contínua de coisas que não posso controlar.

Aliás, tá ai o problema, a minha mania de querer controlar tudo o tempo todo, assim eu sei o que esperar e como agir em todas as situações. Ter um filho tá sendo um chacoalhão da vida todo dia pra me lembrar que eu não controlo nada na real.

E olha só, escrevendo aqui, eu pensei que talvez eu só devesse mudar o foco. A única coisa que eu posso realmente controlar é como me sinto e como eu penso sobre as coisas que acontecem. Então talvez eu só precise lembrar disso o tempo todo, especialmente nos dias que o cansaço me consome e eu me pergunto onde eu fui me meter.

Escrever hoje foi quase ter ido na terapia, e isso é sempre bom.

Então vou lá continuar esperando a amiga, vou aproveitar meu tempo com ela, tentando não me sentir culpada por não estar com meu filho, e depois chegando em casa eu vou poder aproveitar melhor meu bebê tão falante e sorridente.

Respira, não pira, como essa amiga já me disse uma vez.

Feliz 2019 pra mim.

7 meses

Vá com calma, tempo.

Mesmo que eu me pergunte se aquele dia tão difícil falta muito pra acabar. Mesmo quando as vezes, no desespero, eu choro naquela noite que o bebê não dorme. Eu não tenho pressa.

Não tenho pressa de ver cada conquista nova, de acordar com a mão dele no meu rosto, ou mesmo de passar a noite toda na mesma posição pra que ele se aconchegue no meu peito.

E vão ter dias que eu vou querer que acabem rápido, mas entenda, tempo, é só o anseio de uma nova mãe que tá querendo isso. Porque, na verdade, a mãe que pariu há tão pouco tempo, anda até assustada com o quanto sua cria já tá grande.

E ela sabe que daqui a pouco o bebê vai engatinhar, e andar, e largar do peito, e vai pra escola, e vira adolescente. Essa mãe sabe que esse momento é finito, que a gargalhada que o bebê dá hoje vai acabar para dar espaço a gargalhada de criança, de jovem e de adulto mais tarde. Ela sabe que ele vai caber inteiro no seu colo por pouco tempo. E que o colo vai ser tudo que ele precisa por menos tempo ainda.

Então, tempo, vá com calma. Deixa essa mãe aqui curtir o cheiro de quando ele acorda, a esfregadinha no olho de quando ele tá com sono, as brincadeiras no chão da sala, as noites longas, a mãozinha segurando o pézinho, o sorriso no meio do tetê.

Porque eu não tenho pressa, nem um pouco, de viver tudo que temos pra viver juntos.

2017

Último dia do ano mais marcante da minha vida, o ano que meu filho nasceu.

Esse post é rapidinho, só pra lembrar de agradecer por tudo que aconteceu nesse ano, e foram tantas coisas.

Começamos o ano com uma mini férias, cheia de imprevistos, mas cheia de histórias pra gente contar pra vida toda.

E aí logo em fevereiro veio a notícia que ia mudar pra sempre nossa vida, eu estava grávida.

Depois veio a mudança de cidade, no trabalho, a barriga crescendo, a gente descobrindo uma vida nova.

Muita preguiça na frente da TV, muito videogame, muitos jantares, muitas risadas, muito amor.

E aí chegou o dia de conhecer nosso pequeno, e um mundo novo se abriu.

Sei de pouca coisa nessa vida, mas sei que o Marvin veio pra nos ensinar algo grande, forte e profundo.

Para o próximo ano só quero que a gente continue tendo amor, que nossa família continue unida, e que muitos sonhos se realizem.

Vem 2018, vem que eu to pronta pra viver novos dias ❤️

{Meu relato de parto}

[Eu nem tentei deixar esse texto pequeno, eu tentei colocar aqui todo o processo pra chegar onde chegamos, e tudo que senti naquele dia. Vai ser textão.]

Eu ainda estou tentando assimilar tudo que aconteceu no dia do meu parto. A verdade é que é o dia mais intenso e mais lindo que aconteceu na minha vida.

ANTES

É engraçado, lembro que quando descobri que tava grávida, eu sabia que queria um parto natural, mas eu nunca tive o que tantas chamam de um “parto dos sonhos”. Eu só queria que meu filho viesse ao mundo no tempo dele, sem nenhum tipo de droga, e se possível, fora de um hospital. Basicamente era isso.

A gente ainda morava em Montreal, e lá eu estava lutando pra conseguir uma casa de parto, já que eu não acreditava que nossa casa era adequada pra isso. Com a mudança pra Oshawa, e na nossa nova casa, eu não tinha mais dúvidas: eu queria um parto em casa.

Aqui no Canadá tenho a opção de fazer o acompanhamento da gravidez com o obstetra ou com as midwives (que são tipo as enfermeiras obstetras no Brasil), e assim que chegamos eu fui atrás de achar uma midwife pra chamar de nossa. Marquei duas consultas em locais diferentes, e quando chegamos na segunda consulta, saímos de lá com a certeza que tínhamos encontrado quem ia acompanhar a gente. Nós ficamos então no team 6, com a Shannon e a Alexia.

Pensando hoje, minha gravidez foi linda. Eu já to com saudade de estar grávida, juro! Tirando o enjoo que durou até praticamente o sétimo mês, e as dores normais de gravidez (lombar, pé da barriga, cansaço eterno), tudo ocorreu bem, tanto comigo quanto com o Marvin.

Lá no finalzinho, veio uma preocupação, no exame de sangue vimos que meu nível de ferro no sangue estava baixo, e se continuasse como estava, as midwives não recomendavam mais o parto em casa por risco de hemorragia. O mais legal de tudo isso, é que apesar de elas não recomendaram, a escolha final é sempre minha.

Bom, foram semanas tomando suplemento de ferro, e com alimentação focada em melhorar meu nível do ferro, e no último exame, chegamos ao que elas falaram de “nível aceitável” para o parto em casa.

As semanas foram passando, nossas consultas começaram a ser semanais, parei de trabalhar com 38 semanas, meus pais chegaram, e dia 5 de novembro, a data prevista de parto, ia se aproximando.

Na última consulta antes da data prevista, a Alexia nos explicou o que aconteceria caso ele não nascesse até 41 semanas e 3 dias. Uma longa conversa sobre possíveis induções e aí, meu plano de ter em casa não funcionaria mais.

Passei a conversar e explicar pro Marvin tudo isso. Lembro de um dia naquela semana sentada sozinha eu falar pra ele que eu queria muito que ele viesse no tempo dele, mas que se ele continuasse ali até dia 15 de novembro, eu teria que ajudar um pouco.

Dia 30 de outubro tivemos consulta, e fizemos o deslocamento de membrana, que nada mais é que um método mais natural de ajudar a induzir o parto. Se o bebê estiver pronto, o procedimento ajuda a iniciar o trabalho de parto, se ele não estiver pronto, é só um procedimento bem doloroso mesmo. E foi só isso, uma dor horrível. Marvin não tava pronto ainda.

Chegou dia 4. Tive algumas contrações de treinamento, bem espaçadas e com durações diferentes. Liguei pra Alexia, falei como estavam as contrações, e ai ela me falou que estava doente, e que caso eu entrasse em trabalho de parto aquele dia ou no dia seguinte, eu teria outra midwife, porque ela infelizmente não poderia vir (a Shannon estava de férias). Fiquei com medo, mas óbvio que entendia a situação. Tomei um bom banho de banheira, e as dores foram embora. Ainda não era o trabalho de parto.

Dia 5 chegou, 40 semanas. E foi um domingo como outro qualquer, uma barriga enorme, dores leves, expectativa, e só. A noite foi chegando e eu percebi que o Marvin não queria dividir o dia dele com ninguém (o avô do Léo e meu tio fazem aniversário dia 5).

[auto retrato no dia 5, que saudade da minha barriga!]

Eu já tinha consulta agendada pra segunda dia 6 no período da tarde, e logo de manhã me ligaram pra remarcar pra dia 7, porque a Alexia continuava doente. Então tá, vamos lá pra mais um dia grávida. E esse foi meu último dia grávida do Marvin.

DURANTE

Acordei com um susto enorme, e vi que eu tinha molhado toda a cama. Léo, acorda, minha bolsa estourou. Olhei no relógio, era 2:45 da manhã. Respirei fundo, mandei a ansiedade embora, eu sabia que isso não era necessariamente um sinal de que o Marvin estava chegando. Eu poderia esperar mais 4 dias inclusive. Mas logo em seguida eu senti uma dor forte. Baby, isso foi uma contração! Bora começar a monitorar. Uma hora monitorando, contrações a cada 3 minutos, com duração de 1 minuto. A gente só liga pra midwife quando estamos com contrações por uma hora a cada 5 minutos e com 1 minuto de duração, o famoso 5:1:1. Bom, acho que tá na hora de ligar. Ligamos. Lembro vagamente do Léo falando com a Alexia, e ela pediu pra falar comigo, me perguntou como estavam as dores, pra mim elas estavam fortes, bem fortes. Ela nos disse então que estava a caminho.

As contrações doem. Uma dor única, forte, intensa. Mas eu tava preparada pra elas. Eu soube respirar, soube encarar uma de cada vez sem pensar na próxima. Eu dormia entre cada contração, sim, dormia! Lembrei dos exercícios de respiração, e pensava o tempo todo sem parar: eu sei parir e meu filho sabe nascer, I’m the one with the force and the force is with me. JURO, esses foram meus lemas durante meu parto. Talvez eu seja fã de Star Wars, talvez.

Comigo o tempo todo eu tive o Léo, que me deu força, me incentivou, não me deixou desistir, me deu ombro pra dormir, aguentou cada contração do meu lado, e me lembrou o tempo todo o que eu precisava lembrar: eu ia conseguir! E também minha mãe, que me fez massagem, me dava água, amor, e força. Meu pai também estava em casa, mas ele só aparecia as vezes, me dava um beijo e um cheiro, e saia. Eu sabia que pra ele não ia ser tão fácil me ver com dor.

[eu dormindo entre contrações, e Léo me dando toda a força que eu precisava ❤️]

Eu entrei na tal da partolândia bem no começo. Lembro de tudo meio espaçado, e tem coisas que nem me lembro, que eles falam, e eu acho que ouvi ou vi, mas não tenho a lembrança clara na minha cabeça. Eu só tenho a lembrança de sentir o Marvin chegando. Ele realmente estava chegando. Me conectei com meu corpo e com meu filho, entrei realmente num mundo que era só meu e do Marvin. Faltava muito pouco pra tudo que eu tava vivendo nos últimos 9 meses se tornar real, pra gente ver a carinha dele, que eu nunca consegui imaginar como fosse.

Alexia chegou por volta de 5 da manhã. Checou minha pressão, batimentos do bebê, tudo certo. Vamos ver como tá a evolução? Vamos! 2 a 3 centímetros. Eu sabia que ainda era bem pouco. Não fiquei chateada, faz parte do processo. Ta tudo bem. Eu ainda não estava em parto ativo que é a partir de 5cm. Ela nos disse então que ia esperar com a gente mais uma hora pra ver se evoluía. Pra mim o tempo parecia estar diferente. Era mais rápido e ao mesmo tempo devagar, bem sem explicação mesmo. Sei que ela voltou pra me checar de novo, e eu ainda estava com a mesma dilatação. Ela falou que ia embora e que era para o Leo ligar de novo quando minhas contrações ficassem mais “verbalizadas” ou quando ele visse algum sangue.

E as contrações ficaram diferentes mesmo. Eram mais intensas, parecia bem mais difícil de me concentrar. Eu sei parir, meu filho sabe nascer. I’m the one with the force and the force is with me. Comecei a verbalizar cada contração, não conseguia só respirar fundo, eu tinha que gritar, que chorar, que mudar de posição. Léo diz que eu até pedi pra desistir, pra me levar pro hospital e me dar anestesia, mas eu não lembro, o que é bem bizarro, porque só lembro de pensar que eu ia conseguir.

E ficamos nisso um bom tempo. Eu não tinha ideia de que horas era, ou de quanto tempo eu estava ali. Vi amanhecer, lembro de as vezes ver as pessoas comendo, falando, mas eu não estava realmente presente.

No meio de uma contração ouvi minha mãe avisando o Léo que tinha sangue. Liga pra Alexia, avisa que tem sangue, ela fala comigo, eu mal conseguia falar, eu tinha a impressão que não tinha mais intervalo entre uma contração e outra. Ela disse que estava voltando pra me checar.

Eu não tinha expectativa nenhuma. Quando ela chegou, depois de checar os batimentos do Marvin, ela me pediu pra ver como estava a evolução e eu lembro de já esperar que ela falasse 4cm, porque apesar da dor ter ficado mais intensa, na minha cabeça poderia ser muito pior. E aí veio a boa notícia, eu já estava com 8 a 9cm de dilatação. Eu ri e sorri, eu chorei. Eu fiquei feliz, aliviada, meu corpo todo relaxou, e pra mim algo que parecia uns 10 minutos depois, eu comecei a sentir vontade de fazer força. Alexia me pediu pra esperar, ela já tinha ligado pra midwife extra (sempre é uma pra mãe, e uma pro bebê, que só vem quando já tá quase na hora de nascer), e ela começou a preparar tudo. Isso era por volta de 9:30 da manhã.

Eu tava muito preparada para as contrações. Mas eu não estava nada preparada para o expulsivo. Quando as outras midwives chegaram, e a Alexia me disse que eu poderia fazer força quando sentisse vontade, eu vi que eu não entendia direito onde fazer a força. Comecei a ter vontade e a tentar empurrar, mas era muito confuso pra mim onde eu tinha que concentrar a força.

Tentei diferentes posições e nada era confortável. Comecei a ficar cansada, bem cansada. As dores mudaram, eu sentia o Marvin, mal conseguia fechar a perna, minha sensação é que ele tava quase saindo.

Depois de tentar empurrar muito ainda na cama, e sem sucesso, Alexia sugeriu que eu saísse dali, fosse para o chão. O problema era me movimentar no meio das dores, daquela vontade de fazer força e no meio de tanto cansaço. Eu tava exausta! Fui para o chão, tentei ficar em pé, de cócoras, tudo sem sucesso. Eu me sentia muito fraca pra tudo. E ai deitei ali no chão mesmo, e a Alexia começou a me instruir em como respirar, como fazer força e como segurar meu corpo em cada contração que vinha.

Pra mim tudo aquilo era de longe a parte mais difícil. Mas, em uma das forças a Alexia me falou, Marcela, eu to vendo a cabeça dele, mas quando a contração acaba ele tá voltando, você precisa fazer mais força! Acho que se teve algum momento que duvidei realmente se eu ia conseguir, foi esse. Eu não tinha mais energia, estava realmente esgotada. Mas, eu continuei, tentei fazer tudo que ela me falava.

Hora de verificar os batimentos do Marvin. Os batimentos estavam ficando mais fracos, e eu sabia que ou ele nascia, ou eu ia ter que ser transferida para o hospital. A Alexia me olhou e falou: ele precisa sair agora! Eu tentei, e tentei de novo. Fazia força, tentava seguir as instruções, mas não conseguia. E aí ela me falou a palavra que eu mais tive medo durante toda minha gestação: episiotomia. Meu filho precisava nascer aquele momento. Foi necessária e aconteceu. E logo em seguida, as 12:54 da tarde do dia 7 de novembro, após fazer força mais uma vez, eu pude ver e sentir o meu bebê. Com 3.500g e 51cm, o Marvin nasceu.

DEPOIS

Nada no mundo pôde me preparar para o momento que vi meu filho pela primeira vez. Eu consegui. Eu pari. Ele era lindo, igual o pai dele. Um bebê grande, cabeludo e bochechudo. Nosso filho.

Ele chorou um pouco, falei pra ele que tava tudo bem e que eu o amava. Ele ficou em cima de mim, e ele tinha o melhor cheiro que eu já tinha sentido na vida, quase que viciante. Depois que o cordão parou de pulsar, Léo cortou, e ficamos ali, no meio de todo mundo, mas parecia que era só eu, o Léo e o Marvin. Como a gente conseguiu fazer aquele bebê tão perfeitinho? Pra mim existiu um amor que nasceu naquele momento. Um amor que eu nunca tinha sentido antes, profundo, incrível. Ele era o bebê mais lindo que eu já tinha visto na vida, e ele era meu, tinha saído de mim, e tava segurando meu dedos com a mãozinha fofa dele.

Depois da placenta sair, saímos do chão, fomos pra cama. Marvin fez a pega certinha, e fez um mamazão, o primeiro dele. Mas sobre amamentação e puerpério, vou tentar fazer outro post.

Parir é poderoso. Eu fiquei me sentindo como se tivesse poderes. Meu corpo pode tudo! Ser mulher é maravilhoso mesmo. Parir dói, cansa, mas juro, eu pensei que seria bem pior do que realmente foi. Eu tive meu parto natural e em casa como eu quis. E tive durante o tempo todo apoio e amor do Léo, fizemos isso juntos, e como durante toda minha gravidez, no parto também não me senti sozinha em nenhum momento.

Falei pra todo mundo enquanto Marvin mamava aquela primeira vez, que eu vou ter outro filho. Sem nem saber direito o que vinha e ainda vem pela frente, quero passar por toda essa sensação de novo.

Quando penso nas coisas que eu queria que fossem diferentes, penso que eu deveria ter me preparado mais para o momento de fazer força assim como me preparei para as contrações. A episiotomia foi difícil pra eu aceitar, mas entendi que foi necessária, e hoje, completamente cicatrizada, vejo que não foi nada demais, que não ficou nenhuma marca, e principalmente, que não foi uma violência obstétrica. E também me arrependo de não ter contratado uma fotógrafa pra esse dia, tenho pouquíssimas fotos, porque nosso plano do Léo fotografar obviamente não funcionou.

Demorei bastante pra conseguir terminar esse post, e sei que com certeza não consegui falar sobre tudo o que foi aquele dia. Mas, tá aqui, da melhor forma que consegui escrever, pra que eu tenha esse registro, esse texto sobre o dia mais incrível da minha vida.

Que delícia ser mãe desse menino.

[primeiro retrato que o papai fez da gente]

[Marvin com 40 dias ❤️]

{38 semanas}

Agora tá chegando de verdade.

Agora meu bebê pode chegar a qualquer momento. Tô aqui, tão preparada quanto se pode estar. Em meio a fisioterapia, acupuntura e consultas com as parteiras, a gente já deixou a casa pronta pra receber nosso filho. Pegamos a lista do que precisa pra ter o parto em casa, e tá tudo separado, tudo pronto.

Acabou o stress do trabalho, o cansaço de todos os dias, e agora to de licença maternidade. Aqui eu tenho o previlégio de ter um ano pra ficar com meu filho.

E com isso sobrou tempo de olhar mais pra mim. De prestar atenção nos meus sentimentos, no meu corpo, nessa mudança tão grande que parece entrar de todos os lados.

Existe estar pronta? Pronta pra ser mãe de uma pessoa que eu não conheço?

Eu tenho tantos medos, inseguranças, questionamentos de vida, que tem dias que me sinto bem longe de estar pronta.

O que está realmente pra acontecer a qualquer momento? Vai nascer de mim uma pessoa que é parte minha, parte do Léo, mas que ao mesmo tempo é alguém completamente diferente da gente. Um bebê que vai depender da gente totalmente pra tudo, e que vai mudar nossa vida pra sempre.

A gente tá aqui em casa esses dias vivendo os últimos dias como um casal. Muito em breve vamos ter pra sempre um filho. E ter um filho independe de como estaremos como casal. Entende que maluco?

A gravidez precisa mesmo ter essa espera. Precisa dessas lições enormes que só ela é capaz de trazer.

Pra mim tá sendo aprender a não ter controle de tudo. Eu não sei quando o Marvin vai nascer, e tudo bem. Eu não sei como vai ser, e tudo bem também. Não sei se vai ser difícil ou extremamente difícil a adaptação, e tudo bem também. Mas aqui dá pra ver que a Marcela de antes continua aqui. Viram que eu só me preparo para o difícil? Então.

E aí eu, que sempre fui gorda e feliz com meu corpo como ele é, to tendo que aceitar um novo corpo. Uma barriga grande, cheia de estrias que nunca tive. Passei a gravidez toda não mostrando minha barriga por completo, porque eu nunca achei ela linda. Mas, as estrias não vão embora, né? Mesmo depois, elas vão continuar aqui, porque agora elas fazem parte do meu corpo. Hoje eu pedi pro Léo fazer uma foto da barriga de frente. Assim, como eu estou. E olhando pra foto, eu continuo eu. Mesmo com estrias na barriga. Se eu quiser, posso até deixar mais poético e dizer que cada estria é um caminho novo que tive que aprender nessa gravidez.

E foram muitos caminhos, realmente. Eu tive que me aceitar grávida, mudei de cidade, de trabalho, de casa, fiz uma nova imigração, aceitei ficar longe da família e agora também de amigos, enfrentei meus medos internos e externos, inseguranças, incertezas, fiquei enjoada até o sexto mês, tive que aprender a expor meus sentimentos, a chorar mais, a deixar ir, a me desprender, a dormir mais, a me desligar, a me permitir ficar cansada.

E não to querendo dizer que tudo é lindo, maravilhoso, e que é um momento mágico. Eu to tentando deixar mais real mesmo. Falar que é difícil carregar um bebê, que dói, que o corpo muda, que dá medo pra caramba. Que tem dias que eu entro em desespero, e me  pergunto onde eu tava com a cabeça quando achei que tudo bem eu ser mãe.

Mas, hoje, com 38 semanas e 4 dias, eu posso dizer que eu to feliz que tomei a decisão de ter esse bebê. Talvez eu  fique grávida de novo daqui um tempo, mas nunca mais vou estar grávida desse bebê aqui. Do Marvin, que me responde quando eu converso com ele, que parece reconhecer quando o pai dele conversa com ele, que confiou em mim essa tarefa doida de trazer ele nesse mundo.

É, talvez essa aceitação é o estar pronta.

Talvez o estar pronta não é fazer tudo certo. É fazer o que você acredita ser o melhor pra você, e sua família.

E olha, vou te dizer, que família incrível que a gente tá começando aqui.

Vem, Marvin. Pode vir, no dia que você quiser, como você quiser. Sua mãe e seu pai estão tão prontos quanto se pode estar.

 

Rapidinha.

Blog, eu ando tanto querendo vir aqui, e escrever, falar da vida, do trabalho, da música nova, da Molly, de tatuagem, da amiga, do meu trabalho, da minha chefe, do marido, do feminismo, de tudo. Mas a vida me atropela, a preguiça me vence e eu acabo deixando pra amanhã, até que o amanhã vira 6 meses depois. 

Então, vim aqui dizer, assim bem rapidinho, que a vida tá caminhando, que eu ainda sinto uma saudade doída da Molly, que to querendo um milhão de coisas, mas ao mesmo tempo eu preciso de tempo e que eu finalmente achei um exercício que eu gosto de fazer.

Eu prometo tentar voltar logo, dessa vez não tão rápido, pra falar de tudo e mais um pouquinho. 

Blog, te amo. Molly, saudade. 


 

2015

Ainda não é o último dia do ano, mas é o penúltimo. E amanhã, eu pretendo não ficar aqui pensando em tudo que tenho pra falar desse ano.

2015 na minha vida fica como o ano mais difícil, mas também um ano bem feliz e real.

Na verdade, eu divido esse ano em dois. Teve 2015 de janeiro até fim de abril, e a partir daí um outro ano. E esse primeiro foi incrivelmente difícil em um milhão de maneiras diferentes.

Mas, quando tudo se ajeitou, que foda que esse ano foi. Quando conversar adiantou, quando tudo que precisava ser dito, mudado, ajeitado, construído, foi feito, começou um dos anos mais legais de todos os tempos.

E é nele que estou hoje.

Sempre que chega finzinho do ano, eu fico quietinha, pensando em tudo que passou, que eu vivi, nas pessoas que estão na minha vida agora, nas que estão quase saindo, nas que estão chegando, nas pessoas que eu vou levar pro resto da vida como amigas, penso na minha família, no inverno, na Molly, no Fred.

Como eu senti e ainda sinto saudade do Fred. Ainda dói, como se ele tivesse acabado de ir embora. Saudade dessas de chorar muito.

Tem gente que tá quase saindo de vez da minha vida, e pra elas o meu obrigada pelas risadas e momentos que compartilhamos, mas tem diferenças que não convivem juntas mesmo. Isso inclui até momentos da vida. As pessoas vem e vão, e faz parte.

Tem algumas poucas pessoas que hoje eu sei o quanto são essenciais. E essas, eu quero que sempre estejam comigo.

Eu to quase me formando. Tá tão perto que é praticamente palpável. Eu to conseguindo. Recuperei no verão e outono a matéria que eu tinha reprovado, vou me formar no tempo esperado. E a partir daí outros sonhos sendo realizados.

Foi nesse ano que surgiu um dos maiores projetos da minha vida, que me dei conta que to com 31 anos, que criar expectativas só me fazia mal, que ansiedade acaba comigo a ponto de não respirar, e que sonhos loucos podem ser compartilhados.

E também entendi que o que eu acredito em política é diferente do que eu imaginava ser, e por isso mudei minha visão política, e to tentando estudar ainda mais sobre isso.

Foi nesse ano que eu nadei no mar quente de Porto de Galinhas, que eu comi pão francês de manhã com manteiga, que eu passei noites em claro rindo, conversando, jogando com meus amigos. Que eu vi bambis soltos, bem de pertinho. Que eu pendurei todos os quadros na casa.

2015 foi um ano muito EU. Mas que foi muito um ano EU+VOCÊ. E que deu tudo certo.

Que 2016 venha cheio de energia positiva e concretizações. Que seja um ano bom e feliz.

Meio clichê, mas tá ai 365 oportunidades pra fazer o que a gente quiser.

Feliz ano novo!

{a foto é do marido, no dia do meu aniversário de 31 anos}

Voltando…

Começando pelo que ouço, alto, quase gritando, é Otto. E hoje eu sei que com Otto e Camelo eu enfrento tudo, manda ai, eu juro que aguento.

Eu to de férias, é, essa que eu tava praticamente contando os segundos pra chegar sabe? Ela ta aqui tem quase 10 dias já. Mas, ela ta diferente de como eu tava imaginando, e me dando mais trabalho do que eu gostaria.

Ando com mil projetos na cabeça e um só no coração, e essa briga interna aqui ocupa tempo.

Mas, um dos projetos ta aqui, meu blog de volta, vivinho, de cara nova, de endereço fixo de novo (te amo .com).

E lembrei que essa vai ser provavelmente a melhor maneira de enfrentar dias de inverno, longos e escuros como eles estão.

Então, que venham mais posts, mais sonhos, mais músicas, mais filmes, mais eu.

Acordo, e tudo parece estar dormindo, inclusive meu pensamento.

Chego pra trabalhar, só consigo pensar em ser.

Hoje meu mundo seria melhor com o dia intenso ao seu lado, não distante assim.