Agora tá chegando de verdade.
Agora meu bebê pode chegar a qualquer momento. Tô aqui, tão preparada quanto se pode estar. Em meio a fisioterapia, acupuntura e consultas com as parteiras, a gente já deixou a casa pronta pra receber nosso filho. Pegamos a lista do que precisa pra ter o parto em casa, e tá tudo separado, tudo pronto.
Acabou o stress do trabalho, o cansaço de todos os dias, e agora to de licença maternidade. Aqui eu tenho o previlégio de ter um ano pra ficar com meu filho.
E com isso sobrou tempo de olhar mais pra mim. De prestar atenção nos meus sentimentos, no meu corpo, nessa mudança tão grande que parece entrar de todos os lados.
Existe estar pronta? Pronta pra ser mãe de uma pessoa que eu não conheço?
Eu tenho tantos medos, inseguranças, questionamentos de vida, que tem dias que me sinto bem longe de estar pronta.
O que está realmente pra acontecer a qualquer momento? Vai nascer de mim uma pessoa que é parte minha, parte do Léo, mas que ao mesmo tempo é alguém completamente diferente da gente. Um bebê que vai depender da gente totalmente pra tudo, e que vai mudar nossa vida pra sempre.
A gente tá aqui em casa esses dias vivendo os últimos dias como um casal. Muito em breve vamos ter pra sempre um filho. E ter um filho independe de como estaremos como casal. Entende que maluco?
A gravidez precisa mesmo ter essa espera. Precisa dessas lições enormes que só ela é capaz de trazer.
Pra mim tá sendo aprender a não ter controle de tudo. Eu não sei quando o Marvin vai nascer, e tudo bem. Eu não sei como vai ser, e tudo bem também. Não sei se vai ser difícil ou extremamente difícil a adaptação, e tudo bem também. Mas aqui dá pra ver que a Marcela de antes continua aqui. Viram que eu só me preparo para o difícil? Então.
E aí eu, que sempre fui gorda e feliz com meu corpo como ele é, to tendo que aceitar um novo corpo. Uma barriga grande, cheia de estrias que nunca tive. Passei a gravidez toda não mostrando minha barriga por completo, porque eu nunca achei ela linda. Mas, as estrias não vão embora, né? Mesmo depois, elas vão continuar aqui, porque agora elas fazem parte do meu corpo. Hoje eu pedi pro Léo fazer uma foto da barriga de frente. Assim, como eu estou. E olhando pra foto, eu continuo eu. Mesmo com estrias na barriga. Se eu quiser, posso até deixar mais poético e dizer que cada estria é um caminho novo que tive que aprender nessa gravidez.
E foram muitos caminhos, realmente. Eu tive que me aceitar grávida, mudei de cidade, de trabalho, de casa, fiz uma nova imigração, aceitei ficar longe da família e agora também de amigos, enfrentei meus medos internos e externos, inseguranças, incertezas, fiquei enjoada até o sexto mês, tive que aprender a expor meus sentimentos, a chorar mais, a deixar ir, a me desprender, a dormir mais, a me desligar, a me permitir ficar cansada.
E não to querendo dizer que tudo é lindo, maravilhoso, e que é um momento mágico. Eu to tentando deixar mais real mesmo. Falar que é difícil carregar um bebê, que dói, que o corpo muda, que dá medo pra caramba. Que tem dias que eu entro em desespero, e me pergunto onde eu tava com a cabeça quando achei que tudo bem eu ser mãe.
Mas, hoje, com 38 semanas e 4 dias, eu posso dizer que eu to feliz que tomei a decisão de ter esse bebê. Talvez eu fique grávida de novo daqui um tempo, mas nunca mais vou estar grávida desse bebê aqui. Do Marvin, que me responde quando eu converso com ele, que parece reconhecer quando o pai dele conversa com ele, que confiou em mim essa tarefa doida de trazer ele nesse mundo.
É, talvez essa aceitação é o estar pronta.
Talvez o estar pronta não é fazer tudo certo. É fazer o que você acredita ser o melhor pra você, e sua família.
E olha, vou te dizer, que família incrível que a gente tá começando aqui.
Vem, Marvin. Pode vir, no dia que você quiser, como você quiser. Sua mãe e seu pai estão tão prontos quanto se pode estar.